quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Jogos Eletrônicos: Uma Breve Reflexão

Caro leitor, querida leitora, peço um momento da sua atenção porque quero debater sobre um assunto polêmico: a relação entre jogos eletrônicos e seus jogadores. Muitas pessoas, influenciadas por aquilo que é dito sobretudo nos canais abertos, costumam posicionar-se em uma de três opiniões extremas: pensam que jogos eletrônicos são coisa de criança, ou pensam que os jogadores são pessoas violentas, ou ainda que os jogadores são viciados. Convido agora a leitora e o leitor a uma breve reflexão sobre o assunto.

Quanto à idéia de que os jogos eletrônicos são uma forma de lazer exclusiva a crianças (ou a adultos infantilizados), é fácil verificar que não é bem assim. Existem jogos cujo grau de complexidade é bastante alto, exigindo um nível de conhecimentos gerais ou certas capacidades cognitivas que, em geral, as crianças não possuem ainda. Além disso, temos no mundo dos jogos eletrônicos títulos que trazem conteúdo adulto, sobretudo relacionado à sexualidade humana e à violência.

Falando em violência, chegamos a outro ponto: quem se dedica a jogos eletrônicos se torna violento? Não necessariamente! Afinal, o que leva alguém a cometer atos de violência? Bem, em todas as sociedades humanas, existem regras de comportamento, existe a noção de certo e errado, existem noções de ética e de moral que são transmitidas aos indivíduos através da família, da escola, da religião e de outras instituições.

Ocorre que, de modo geral, as pessoas internalizam as regras como válidas, e passam então, gradativamente, a comportar-se de acordo com tais normas. Essas pessoas, que entendem a noção de moralidade e a praticam, são pessoas morais. Entretanto, existem também aqueles que são amorais e aqueles que são imorais.

Amoral é alguém que não é capaz de perceber a distinção entre certo e errado. É o caso de crianças muito jovens, de idosos com alguma patologia que os faça regredir àquilo que se costuma chamar de “segunda infância”, e das pessoas tidas como insanas. Tais pessoas são incapazes de decidir sobre a moralidade dos seus atos. São amorais. Já os imorais são aqueles que conhecem as regras de conduta de seu meio social, mas de propósito transgridem essas regras. É o caso de quem rouba, engana, humilha, mata etc. e tem consciência do que está fazendo.

Pois bem, mas o que isso tem a ver com os jogos eletrônicos? Simples! Se uma pessoa madura e moral (que respeita as regras de convivência) se aventurar em jogos violentos, não há por que supor que tal pessoa há de tornar-se violenta. Afinal, essa pessoa é sã a ponto de perceber a diferença entre realidade e ficção, e tem boa índole a ponto de não transgredir as normas que visam o bom convívio social.

A gente pode até argumentar que jogos violentos são uma espécie de “terapia”, em sentido metafórico, é claro. Afinal, após decepar, metralhar ou, no extremo da maldade, obrigar um personagem do jogo a ouvir “funk” carioca, o jogador costuma sentir alívio, alegria, conforto. Somos todos “homo-pensa-que-sapiens”. Mamíferos. Bichos. Portanto, temos agressividade. É melhor sublimar essa agressividade num personagem fictício, do praticá-la contra um ser humano de carne e osso. Além do mais, se uma pessoa está prestes a cometer um ato violento, então ela pode inspirar-se não apenas num jogo, mas também num filme, num livro, numa música etc.

A terceira falácia é de que os jogadores são “tudo um bando de viciado”. O que é vício, querida leitora? É o contrário de virtude. Vício é aquilo que um indivíduo faz compulsivamente, sem ter controle sobre seu comportamento. Vício é aquilo que afasta o indivíduo de atividades edificantes.

Se alguém deixa de trabalhar, estudar ou cuidar de si para aventurar-se num jogo eletrônico, então é cabível falar em vício. Entretanto, uma pessoa que se dedica às atividades cotidianas normalmente e, nos momentos de folga, diverte-se com um jogo eletrônico, essa pessoa pode ser chamada de viciada?

Vale lembrar, também, que alguém pode viciar-se em mil e uma coisas. Há pessoas viciadas em cafeína, há pessoas viciadas em jogos de azar, outras são viciadas em comida... Tem até gente viciada em trabalho, existindo inclusive o termo inglês “workaholic” (parecido com “alcoholic”) para designá-las. A expressão “viciada em trabalho” pode parecer absurda para alguns, mas pensemos um pouco a respeito. Se alguém trabalha incessantemente, deixando tudo mais em segundo plano, inclusive as pessoas amadas, inclusive seu próprio bem estar físico e mental, essa pessoa está dedicando-se ao trabalho de modo saudável?

Então, querido leitor, cara leitora, espero sinceramente ter estimulado aqui a reflexão sobre o tema abordado. Esse assunto me parece bem interessante, e seria um prazer trocar mais idéia a respeito. Porém, preciso ir porque tenho um jogo muito legal me esperando ali. Espero que minhas palavras provoquem um “level up” no pensamento de algumas pessoas.

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