domingo, 30 de setembro de 2007

Diário de um prisioneiro (30-09-07)

George Bush e sua gangue continuam arrotando asneiras, cuspindo bombas e flatulando armas químicas; o Brasil perdeu hoje de manhã pra Alemanha, por 2 a 0, na final da Copa Feminina; as pizzarias de Brasília (Pizzaria da Educação, Pizzaria da Fazenda etc.) continuam a toda lenha, com a sua fornalha consumindo a impunidade e a ignorância, sempre em nome da desordem e do regresso... e eu também não ando lá muito bem das pernas.

Nos últimos dias fui mantido em cárcere privado no meu quarto, refém do meu próprio corpo. O que me resta então? Restam algumas idéias na cabeça, dedos coçando e tela em branco. Antes que a situação fique crônica, por que não aproveitar o trocadilho gênero-textual e escrever um pouco, fazer uma pequena metalinguagem e terminar as preliminares? Vamos à introdução... do tema, claro. Ontem terminei de jogar Okami, um RPG-Ação do meu velho parceiro PS2.

Que jogo incrível! O clima místico e mitológico – ou religioso, depende do ponto de vista – flui de modo muito agradável em todos os aspectos, dos deslumbrantes visuais às músicas deliciosas, do enredo inteligente e bem amarrado ao sistema de batalha inovador e repleto de recursos. Okami é uma viagem a um mundo encantado, fantástico, onde os deuses do Xintoísmo se unem na eterna luta do Bem contra o Mal.

Num Japão medieval e mágico, com criaturas da escuridão brotando nos campos, infestando cavernas, horrorizando vilas em seu vil intento de dominar a tudo e a todos, a protagonista da aventura é Amaterasu, a deusa do Sol, que neste mundo assume a forma de uma loba. Não, não, ela não é uma tiazinha de meia idade redescobrindo seu sex appeal; a deusa do Sol se transfigura sem metáforas para enfrentar o temível Orochi, espécie de dragão de oito cabeças, e sua corja de polític... digo, de monstros vis e sanguinários.

Pelos elementos fantásticos, o enredo complexo e simbólico, bem como a profundidade psicológica dos personagens e um humor afiado, capaz de promover maravilhosas quebras ao longo do enredo geralmente “sério”, por tudo isso Okami se assemelha às obras do genial Miyakazi, como A Viagem de Chihiro e O Castelo Animado. No mundo dos games, me parece que a melhor comparação é com The Legend of Zelda, do não menos genial Shigeru Miyamoto.

Mas essas comparações não devem deixar Okami na penumbra, pois o jogo tem seus próprios méritos, certamente merece muitos holofotes. Se mencionei Miyazaki e Miyamoto, é porque me encanta a capacidade desse povo do sol nascente pra fazer cultura de apuradíssimo gosto. Isso sem falar nas japonesas. Ai, as japonesas... (suspiro apaixonado).

Falando nessas incríveis criaturas de saias, que me alteram a respiração, os batimentos cardíacos e o humor, assisti hoje de manhã a derrota da seleção feminina de futebol do Brasil diante da Alemanha, e gostaria de bater uma bolinha sobre esse assunto. A defesa alemã é realmente sólida, quase impenetrável, tanto que não sofreu nenhum gol ao longo da Copa. Além disso, as jogadoras germânicas demonstraram muito mais sangue frio e organização tática.

O futebol feminino da Alemanha e do Brasil se parece bastante com o masculino, pelo que eu vi hoje. No lado de lá, uma consciência tática invejável, um incrível senso de equipe, um jogo meio mecânico e frio, um contra-ataque preciso que não perdoa a ineficiência alheia. “Uma coisa parecida com futebol e que dá resultado”, como diz o folclórico Galvão Bueno, num dos seus raros e breves lampejos de sanidade.

No lado de cá, deficiência na defesa e valores individuais raros no ataque, principalmente a Marta, camisa 10, a nossa Ronaldinha Gaúcha capaz de desequilibrar qualquer partida. O problema é que quando se tem apenas isso, apenas valores individuais, fica mais fácil a equipe ir mal por causa de um resfriado, um desarranjo intestinal ou uma tpm, esse novo elemento que agora faz parte do universo futebolístico.

O Brasil foi mal no ataque, a Marta perdeu pênalti... em uma palavra, enquanto as brasileiras nitidamente esquentavam a cabeça com o passar dos minutos, as alemãs se mantinham confortavelmente em seu zero grau centígrado. Foi uma vitória merecida, mas não há por que baixar a cabeça no lado de cá. Afinal, Brasil e Alemanha foi uma guerra desigual se considerarmos que o futebol feminino tem muito mais apoio em países como EUA, Noruega e a própria Alemanha.

A medalha de prata no peito é uma conquista louvável, um belo exemplo de superação. Vamos ver se agora a CBF organiza um campeonato e dá o devido suporte ao futebol feminino.

De volta às incursões lúdico-verbais, foi muito agradável brincar com a língua em sua companhia imaginária, caro leitor, mas já é fim de tarde e isso representa uma sucessão não muito animadora de fatos. A noite traz a Lua, que traz a meia-noite, que traz a segunda-feira, que traz os berros insuportáveis do despertador; essa criatura sádica me leva de volta ao mundo real, com provas pra corrigir, lindos anjinhos da quinta série pra separar um do pescoço do outro, minha viola com suas curvas provocantes e sua voz insinuante sempre me seduzindo... que venha a semana.

Até logo, Chihiro, Hauru e Link. Boa noite, Amaterasu. Pedala, Marta! Vá pro George Bush que o carregue, Orochi! Boa semana, caro leitor.

domingo, 9 de setembro de 2007

In-sanidade

Tortuosas ramificações aéreas
Se nutrem da incessante sinestesia
Que flui, flui...
Eis que se abrem as cortinas da percepção
Revelando o infinito horizonte
Bela é a estrada de sete cores
Sob pés saltitantes, levitantes
Imaginação alada,
Aventura imaculada,
Suave brisa na face
No fim a fonte cristalina
Sagradas gotas saciam a alma
Infinita sede de inspiração,
Infinitas gotas de inspiração
Fumaça de idéias...
Aspiração
In-spiração
Pira-ação:
O fogo que age
O fogo-íris percorre as veias
Alimentando os sete sentidos...
Trans-piração Ex-piração:
O fogo se dissipa,
Um grande clarão inunda os olhos
E então Íris se transfigura
Fios de ébano
Parecem buscar o chão
Pele de leite,
Olhos de jabuticaba,
Lábios de pêssego
Íris então se aproxima
E suavemente sussurra ao meu ouvido
Palavras de mel e alecrim
Ó, fonte de toda inspiração,
Ó, Íris, amada e musa,
Me usa,
Me abusa,
Me lambusa
Da quase-matéria de que és feita
Tu, que és feita,
Refeita,
Perfeita,
Me abraça,
Me enlaça
Na espiral espaço-tempo
É de bom grado
Que viajo contigo
É de bom grado
Que te recebo.