domingo, 7 de outubro de 2007

O sentido da vida

O mineiro estivera meio pensativo por vários dias. Perguntas sérias, relacionadas a esta existência e o sentido da vida, adentravam sua alma como uma boiada logo após o abrir da porteira do curral. Ele decidiu então subir a Montanha dos Quatro Elementos, essa que é a maior obra de arte da natureza.

A Montanha dos Quatro Elementos tem incontáveis quilômetros de altura e tem esse nome porque apresenta uma singular configuração dos quatro elementos básicos: há um belo lago de águas transparinas (transparentes e cristalinas); um pequeno vulcão adormecido dá um charme especial ao ambiente; a própria montanha representa a terra; e o vento sopra incessantemente emitindo um som que parece uma voz – a voz da natureza, dizem. Por tudo isso, acredita-se que quem chegar à parte mais alta e lá meditar será capaz de encontrar todas as respostas.

Claro que a Montanha dos Quatro Elementos, não obstante suas impressionantes dimensões e suas propriedades únicas, não está no mapa e não é do conhecimento do grande público. Ora, semelhante preciosidade causaria o interesse de muita gente inescrupulosa.

Imagine só, caro leitor. Num dia as manchetes dos jornais pelo mundo afora anunciam a descoberta da “irmã mais velha do Everest”, no dia seguinte especula-se que haja armas de destruição em massa e um grupo de guerrilheiros, e no terceiro lá está o tio Sam usufruindo nossas riquezas naturais, sempre em nome da Democracia. O mineiro, povo que sabidamente come quieto, tem conseguido preservar esse segredo como tal. E se a sombra da dúvida ainda pairar sobre sua cabeça, caro leitor, saiba que o fato de você nunca ter ouvido nada a respeito é justamente o que prova a veracidade de minhas palavras.

Mas chega de digressões. Tive que escapar ao tema principal para preencher uma lacuna. O mineiro decidiu então subir a Montanha dos Quatro Elementos. Preparou uma boa provisão de pão de queijo e café e começou a longa subida. Dura e desgastante foi sua jornada. À medida que ia subindo, mais e mais cortante se tornava o sopro gelado em sua face, e a necessidade de oxigênio crescia à mesma proporção que diminuía sua presença nos pulmões.

Muito mais que um mero par de hobbits subindo uma montanha comum com o vulgar intuito de levar um anel qualquer a certo lugar, lá estava o mineiro, reunindo todas as forças de seu corpo e sua alma em busca do sentido da vida. Depois de intermináveis dias, ao ponto de ele próprio não saber mais quantos, o mineiro finalmente chegou ao topo da Montanha. O vento soprava mais violentamente do que nunca, e as nuvens lá embaixo se movimentavam freneticamente. Acima, apenas o infinito azul e o intenso amarelo. O mineiro, ciente da grandiosidade da situação, multiplica suas forças e grita, a plenos pulmões: Quem cô sô? On cô tô? Djon cô vim? Pron cô vô?

Por um longo tempo, essas palavras ficaram voando acima das águias. Nenhum sinal de resposta. O mineiro chegara ao topo do mundo e nem sinal de resposta. Aos poucos a esperança foi minguando em seu coração; o fogo que o impulsionara até ali ia se extinguindo. Quando os anseios da alma não são atendidos, é então que o corpo fala mais alto. Ele sentiu uma imensa fome; pegou alguns pães de queijo e encheu uma xícara de café. Depois, tomado por enorme cansaço, deitou-se e fechou os olhos, já esquecido de sua missão.

Foi então que algo surpreendente aconteceu: de olhos fechados, no limite entre o lado de fora e o lado de dentro, foi então que o mineiro percebeu o sentido da vida. Para sua grande surpresa, ele descobriu que para ver o sentido da vida, é preciso fechar os olhos. A resposta esteve consigo o tempo todo, dispersa no silêncio. Muito feliz e realizado, o mineiro pegou mais alguns pães de queijo e encheu mais uma xícara de café. Ele tinha um longo caminho de volta.

2 comentários:

Anônimo disse...

Enzofilosofando, esse texto é realmente muito bom. Tem algo de Rubem Alves e L.F. Veríssimo ao mesmo tempo.. :) Abraço!

Anônimo disse...

mto bom seus textos...tem bem o seu jeitinho de falar...bjokas