sábado, 11 de novembro de 2006

Dolls - Takeshi Kitano

O filme Dolls, do cineasta japonês Takeshi Kitano, é um ótimo exemplo de cinema arte. A linguagem é muito bem cuidada em vários aspectos. Os diálogos enxutos se inserem numa perspectiva de não contar a estória, mas sim mostrá-la, deixando conosco grande parte do processo de compreensão. A parte visual é deslumbrante, um mosaico de cores e formas que convidam à contemplação. As cenas longas, arrastadas, aproximam vida e arte e conferem ao espectador a possibilidade de maior imersão na obra. O que mais me cativa em Dolls é o enredo. Três estórias de amor que convergem no palco do drama e da tragédia. O termo palco é bem propício, porque o nome Dolls (bonecos) remete ao teatro nipônico chamado bunraku. Assim como os fantoches, no início do filme, se movimentam, sentem e se expressam sob o efeito decisivo de uma força maior, mas aparentemente têm a crença ingênua de serem a fonte de si mesmos, de forma análoga os personagens em Dolls agem dentro de um panorama de possibilidades já pré-definido, são absorvidos por uma realidade que lhes é exterior e alheia. A vida em sociedade é um grande teatro e os papéis disponíveis independem de nossa vontade. Essa analogia, ao meu ver, é válida sobretudo na estória central do filme (são três estórias que se cruzam, como mencionado acima). Tudo isso mostrado de maneira muito intensa e ao mesmo tempo singela, com um silêncio gritante de personagens que trazem à tona seus sentimentos através de gestos, de olhares que são a ponta de um enorme iceberg. Além disso, o amor e a loucura são temáticas que se fundem, se interpenetram de modo intenso e angustiante. Quem ousa se insubordinar à mão invisível e tirânica que rege as relações humanas está à margem. O fantoche que se atreve a pular pra fora do palco e ganhar vida própria é insano. A respeito dessas simbologias que aqui estou analisando, convido você leitor a interpretar algumas cenas comigo. Primeiro, o momento em que Sawako e Matsumoto estão caminhando contra o vento e atrás deles um grupo de pássaros tentam voar, mas não conseguem ir adiante devido à força do vento. Segundo, os momentos em que estes dois fazem juntos algumas travessias, como de um lado para outro do rio. Terceiro, o momento em que Sawako, até então aparentemente “ausente”, mostra a Matsumoto, de forma nostálgica e tristonha, o anjinho que ele havia dado a ela. Dolls é, em resumo, um filme que me impactou muito, que me faz viajar sempre que o vejo de novo. Uma belíssima obra da sétima arte. Convido você, leitor querido e imaginário, a assisti-lo e trocar idéias comigo a respeito.

Um comentário:

Anônimo disse...

Dolls é filme maravilhoso! Me apaixonei primeiro pela estética, depois pelo enredo.